Atravessar o Atlas foi algo inimaginável.
Pensem em Marrocos e na primeira imagem que vos vem à cabeça? Sol, dunas e camelos? O Atlas é tudo isto... ao contrário! Muita neve e frio - andámos a quase 3 mil metros de altitude! - muita, muitaaa lama, montanhas rochosas percorridas numa infinidade de tempo. Esta parte de Marrocos - a primeira da viagem - foi tudo o que eu nunca poderia imaginar, apesar dos avisos sobre o tempo e de termos a rota completa muito antes de partirmos. Não pesquisei quase nada, dei apenas uma olhada em alguns dos hotéis em que íamos ficar e foi o melhor que fiz. Foram dias UAU e isto é apenas a descrição física do que vi nos primeiros dias.
Vi - acho que todos vimos - muito mais do que os olhos nos podem mostrar.
Sinto que as memórias me começam a fugir, mas há detalhes que consigo reviver mentalmente como se lá estivesse.
Logo no início, pessoas a trabalharem terras que mais pareciam paredes, algumas com tractores mas uma grande parte com a ajuda de burros, outras com rebanhos em locais tão altos que a nós pareciam-nos formigas de tão distantes que estavam. Se o trabalho na terra me impressiona por si só? Claro que não, não é novidade para mim ver... Mas quando eu digo paredes podem acreditar, vi pessoas a trabalhar em sítios que eu não me atreveria a caminhar sequer. Isto tudo no meio do NADA, o nada que torna tão difícil descrever a viagem.
Depois, as pessoas, as pessoas em todo o lado e em lado nenhum. Em lado nenhum como quando, por exemplo, um menino desceu a correr uma encosta no meio do NADA (quilómetros que tínhamos andado sozinhos por trilhos antes), provavelmente acreditando que já não era com NADA que voltaria a subir: do nosso jipe levou bolachas - NADA, nadinha para nós que voltámos com tudo outra vez - dos outros mais um pouco de NADA, que foi com certeza muito mais do que alguma vez seria para nós. Logo a seguir uma habitação - casa é um nome demasiado confortável... - muita lama e neve, crianças descalças... Nova paragem para deixar mais pedaços de quase nada, naquela que foi, para mim, a parte mais emotiva da viagem.